Saturday 21 June 2014

Laxmanrao Sardessai - O Brâmane (1965)

- Quem és, ó passante,
Que vais cabisbaixo e triste
Qual farrapo humano!
És algum fidalgo?
- Não! Não!
- Quem és, ó passante,
Que tens as faces cavadas
E a expressão desolada?
És algum exilado?
- Não! Não!
- Quem és, ó passante
Que andas trémulo
Sem força nas pernas?
És vitima de alguma enfermidade?
- Não! Não!
- Quem és, ó passante
Que pareces um ente miserável
Sem luz nos olhos?
Teria algum importuno ceifado
A vida dalgum ente querido?
- Não! Não!
- Quem és, ó passante
Que pareces um avarento
A quem em um instante
Tivessem os criminosos
Roubado o espólio acumulado?
- Não! Não!
- Quem és tu, ó passante
- Que pareces um ente desprezado
- Qual sofredor politico.
A mendigar depois de, por longo tempo,
Oferecer à sua pátria
O suor e o sangue?
Não! Não!
- Então quem és tu, ó passante?
Serás um espectro?
- Sou brâmane.
- Então que brâmane és?
Sou daqueles brâmanes
Que na dominação estrangeira
Procuraram força e poder
Para o engrandecimento pessoal.
Vejo agora tudo mudado!
Nem direitos nem poder!
- Direitos e poder,
Assentes na injustiça e tirania?
Estamos na democracia, Brâmane.
Ela precisa de teus serviços!
Olha para ti o ignorante e o doente,
Cada aldeia é terra virgem,
Ela te acena.
Tens inteligência, força e dinheiro
Vai e trabalha solitário
Nas aldeias onde medra a ignorância,
Direito e poder virão depois!
Serve teus irmãos
Sê pequeno e humilde,
Trabalha na escuridão,
Durante meses e anos
E um dia serás forte e grande!
- Quem és tu, ó desconhecido
Que me guiaste nesta escuridão?
-Sou hoje Gaudó,
Outrora Brâmane!
Vem amigo, vem trabalhar,
Que a cabeça do Brâmane
E o braço do Gaudó
Têm de se juntar
Para esta terra se levantar!

Laxmanrao Sardessai - Inferno (1965)

Os teus olhos são um inferno,
Não te zangues – dizem os outros,
Mas, se o são,
Eu vejo nesse inferno
Só o Paraíso…
Porquê? Perguntar-me-ás,
Pois te digo. Vejo nele –
No inferno dos seus olhos –
A vastidão dos Céus
A profundeza dos mares
E a majestade dos Himalaias.
Que mais queres?
E, para mais, vejo neles
Retratando o meu ingénuo ser!

N. B. Sar Dessai - Bhisma (1966)

Tu tens de casar comigo – disse o célebre Rei Xantanú à Deusa Gargá, quando esta se lhe apresentou em forma humana, intoxicando-lhe os sentidos com a sua ternura super-humana.

O Rei oferece-lhe em troco do seu amor, o reino, a riqueza e tudo o resto, ainda mesmo a sua vida.

Gargá respondeu-lhe:

Ó Rei, eu posso tomar-te por consorte, mas mediante as seguintes condições: nem tu, nem ninguém me preguntará quem eu sou, nem donde venho; também não me impedirás de fazer o que entender fazer, quer seja o bem, quer seja o mal; nem zangar-te-ás comigo seja por que for; nada de desagradável e recriminatório tu dirás. No momento em que tu violares qualquer destas condições, eu abandonar-te-ei. Concordas?

O Rei concordou impaciente e a deusa tornou-se sua mulher e passou a viver com ele.

O coração do rei estava captivo da modéstia, da graça e do resoluto amor que ela lhe nutria.

Xantanú e Gangá viviam uma vida de perfeita concórdia, sem mesmo se lembrarem da passagem do tempo. Ela deu à luz muitas crianças; de cada vez que lhe nascesse um bebé ela levava-o ao Ganges e deitava-o ao rio, depois do que voltava para o Rei com a cara sorridente.

Xantanú horrorizava-se com esta conduta diabólica mas sofria-a em silêncio, lembrado da promessa feita. Muitas vezes ficava ele a pensar quem seria ela donde vinha e porque agia como uma bruxa sanguinária. E, não obstante, não proferiu sequer uma palavra de recriminação. Desta feita, chegou ela a matar sete crianças. Quando nasceu a oitava, e esteve ela prestes a deitá-lo ao Ganges, Xantanú, não mais podendo suportar, gritou:

“Espera, espera, porque estás tu resolvida a dar esta horrível e desnatural morte às tuas próprias crianças?” – com este grito de alarme, o Rei impediu-a de executar o seu desígnio.

Ó grande Rei, disse ela, tu estás esquecido da promessa feita, o teu coração está agora mais votado às crianças do que a mim, tu já não precisas de mim, e por isso eu vou-me embora. Eu já não mato esta criança, mas ouve (4a pagina) a minha história antes que me julgues:

Eu que me vejo obrigada a desempenhar este odioso papel por virtude das imprecações proferidas por Vassista, sou a Deusa Ganga, adorada dos deuses e dos homens. Vassieta praguejou os oito Vassús desejando-lhes um nascimento no mundo dos homens, e, comovido pelas súplicas deles, determinou que seria eu a mãe deles no mundo dos homens. É de ti que eles nasceram, e ficou-te bem que assim tivesse sucedido, pois tu irás às regiões mais elevadas, em recompensa dos serviços que prestaste aos oito Vassús. Eu cuidarei desta tua última criança por algum tempo, depois do que devolver-ta-ei como meu presente.

Dito isto, a Deusa desapareceu com a criança. Foi esta a criança que mais tarde se notabilizou como Bhisma.