Monday 18 March 2013

O Escritor Orlando Costa (1975)

Este escritor apresentou ao I Congresso dos Escritores Portugueses a seguinte comunicação intitulada “Reflexões sobre a Liberdade de Criação, Condicionamentos e Liberdades Concretas”:

1 – Ao abordar o tema proposto “Criação Literária, Sua Especificidade ou Instrumentalidade”, apontaria desde já uma pequena mas significante correcção. “Criação Literária, Sua Especificidade e/ou Instrumentalidade”.

Esta correcção assenta no facto de a alternativa criar uma falsa proposta de problema e por isso – mesmo admitindo-se a situação de alternativa – não se pode admitir a formula copulativa. Se a especificidade de criação literária pertence ao domínio da própria definição e expressão da criatividade do escritor, a sua instrumentalidade é uma característica, um valor, decorrente dela.

Assim, penso que abordar o problema da especificidade da criação literária é ter que chegar, necessariamente aos domínios da sua instrumentalidade, considerando que a actividade criadora do escritor envolve dois sujeitos e dois tempos necessários do conhecimento e da transmissão: e eu e o outro, o a seguir, o necessário e o urgente.

2 – A criação literária, no âmbito da sua originalidade, é um acto privado, não deixando de ser um facto social.

Um acto privado depende da consciência de um homem – neste caso do escritor – e esta consciência, por sua vez, depende de uma vida real, da sua vida quotidiana.

Ora, a vida quotidiana traduz uma “condição” subjacente: condição humana, condição social, não obstante factores específicos temperamentais de índole e carácter que são, sem dúvida, intervenientes na criação e porventura dos mais importantes e que dão o “tonus” àquilo que poderíamos chamar correctamente “a individualidade da criação na liberdade de criação.”

Todos têm a sua “condição”. Os escritores também. A sua criação literária depende da consciência privada – dos seus limites – e da sua “condição” – contexto básico em que interferem factores mutáveis sócio-económicos e políticos. Na antimonia entre estas duas realidades, definem-se, efectivamente, as fronteiras mais ou menos estáveis do campo onde, com maior ou menor exercício de liberdade, se exprime a capacidade criadora do escritor, como homem “situado” que é.

E aqui convém frisar que esta capacidade do escritor e o seu conhecimento das necessidades apontadas pela sua “condição” são, além de tudo o mais, dentro do âmbito das condições de criação literária, responsáveis pela conquista incessante da liberdade – a liberdade daquilo que escreve e como escreve, das opções temáticas e dos modos de comunicação.

Todos têm a sua “condição”. Os escritores também. A sua criação literária depende da consciência privada – dos seus limites – e da sua “condição” – contexto básico em que interferem factores mutáveis sócio-economicos e políticos. Na antimonia entre estas duas realidades, definem-se, efectivamente, as fronteiras mais ou menos estáveis do campo onde, com maior ou menor exercício de liberdade, se exprime a capacidade criadora do escritor, como homem “situado” que é.

E aqui convém frisar que esta capacidade do escritor e o seu conhecimento das necessidades apontadas pela sua “condição” são, além de tudo o mais, dentro do âmbito das condições de criação literária, responsáveis pela conquista incessante da liberdade – a liberdade daquilo que escreve e como escreve das opções temáticas e dos modos de comunicação.

A especificidade da criação literária radica-se nessa liberdade de opções e capacidades individuais e, ao exprimir-se, essa criação passa de um nível de acto de responsabilidade privada a um nível de facto de responsabilidade social, tanto quanto provoca uma participação do publico com que comunica.

A especificidade da criação literária radica-se nessa liberdade de opções e capacidades individuais e, ao exprimir-se, essa criação passa de um nível de acto de responsabilidade privada a um nível de facto de responsabilidade social, tanto quanto provoca uma participação do público com que comunica.

3 – Mas a liberdade que a criação literária reclama e que um escritor a todo o momento tem de conquistar como é que é assumida? Isoladamente? Individualmente? Isoladamente, não. Individualmente, sim, mas não apenas, porquanto a sua perspectiva – com todo o respeito pela sinceridade, coragem e coerência do escritor consigo próprio – está comprometida no exercício de uma liberdade que, quer queira ou não, o ultrapassa como sujeito individual. A liberdade de criação não é mais do que a consciência e conhecimento da própria necessidade de criar e comunicar, que, por sua vez, ao transformar-se em actividade participa de um conjunto social.

E a necessidade de criar contém em si os gérmenes combináveis de observação e da participação. Quando reflectimos e imaginamos não estaremos já a ser mais participantes do que apenas espectadores? Sem dúvida. Um escritor é, por natureza, um “espectador observador”. A sua capacidade criadora, porém (de descobridor, de recriador – que é afinal toda a sua possibilidade inventiva de perspectivar a realidade), acaba por se revelar um instrumento mais ou menos activo na transformação do conhecimento do real humano.

Entenda se por real humano o mundo interior que todos temos e carregamos ao longo dos dias e dos anos e o mundo exterior, que aquele reflecte, e em que inseridos, marginalizados ou não, mas sempre “situados”, nós atravessamos ao longo dos mesmos dias e dos mesmos anos.

4 – No plano da criação literária esse real humano poderá ser definido como o convívio entre a consciência privada do escritor e as motivações e solicitações da realidade circundante – física e social, sensível, inteligível e transformável.

Ao falar em realidade social convém salientar o que anteriormente já se apontou como sendo a “condição” do escritor numa dada sociedade. Não se está a referir ao escritor como classe profissional, mas como homem social, isto é, como “parte de um processo social”. Da sua inevitável inserção numa dada estrutura em que relações sociais de um certo tipo dominam os fluxos da história, resulta que a sua actividade criadora acarreta inevitavelmente consigo aquilo a que poderíamos chamar uma provocação de instrumentalidade no seio da sociedade, na medida em que não se pode abstrair a criação literária das vias de comunicação. A criação literária envolve indissociavelmente “aquilo que se comunica, a quem e como se comunica.”

Todo este processo propõe, efectivamente, ao escritor a saída da sua consciência privada, o transpor para um encontro de identificação da sua necessidade criadora com uma determinada ideologia. Projecta-o para uma possível consciência colectiva, para uma aferição constante entre a sua necessária liberdade de criação e as liberdades concretas a que num dado momento histórico o ser social tem acesso activo, dentro das raízes culturais e dos problemas do povo que o integra, dentro da sua própria nacionalidade – única via profunda para a universalidade.

E na afeição constante entre a liberdade de criação literária – que se exprime por uma linguagem que é um instrumento colectivo vivo – por linguagens novas que só se criam e fecundam em situações novas ou em vias de renovação e as liberdades concretas que se situam em toda a sua extensão a inegavelmente instrumentalidade da criação literária.

Essa instrumentalidade é, pois, técnica e ideológica. Enquanto técnica, sempre necessária e porventura urgente por ser ideológica.

Nas capacidades criativas e expressivas de cada escritor, reside a especificidade da criação literária, ao mesmo tempo que é no conhecimento dinâmico da sua condição social no mundo e da responsabilidade oficinal que assume ao recorrer a uma via de comunicação que é a escrita, que se reconhece a sua instrumentalidade, a um tempo linguística e social.

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