Thursday 23 August 2012

Augusto do Rosário Rodrigues - A Lâmpada da Democracia na Ásia (1965)

No âmago das florestas, nas ravinas e desfiladeiros
Os filhos da Índia Mártir, os lídimos pioneiros
Da paz lutam para defender esta pulcra terra
Dos tentáculos peçonhentos do polvo da guerra
Desta brutal agressão acre e dolorosa
Por provir duma nossa própria irmã um tanto maldosa...
Paquistão, quem és tu afinal pobre desvairado
Tu és simplesmente um índio desnacionalizado
Aos caprichos dos nossos últimos dominantes
Que, mais subtis que os pristinos quiromantes
Esfarraparam esta milenária terra secular
Transformando-a num caos estrambótico singular
Onde doces maciças do torpe comunalismo
Deram como resultante o presente cataclismo.
A Índia escrava fiel do seu antigo ideal
Vê tudo por um prisma que abstrai o mal
Arauto da Paz, construtora de jovens nacionalidades
A Pátria de Bharat lutou sempre pelo Bem em todas as idades
Ela que corria célebre apagar lutas de vários povos e gentes
Desgostosa vê na tortura das batalhas seus queridos entes
Lutando como leões numa unidade homogénea de irmãos
Sejam eles hindus, sikhs, budistas, moslems, parses ou cristãos
Pertencendo a raças díspares, credos diversos e língua diferente
Tudo constituiu um amalgama plurifacetado constituindo única frente?
Oh berço dos deuses o teu solo sagrado
É um poema primorosamente ilustrado
Onde cada página deleita o leitor mais caprichoso
Que se enamora loucamente do teu passado donairoso
Tu nunca foste amiga das guerras ó terra idolatrada
Quase sempre trocaste pela paz a gume da espada
Mas quando te afrontam e ferem sem motivo
Nenhum dos teus filhos quer continuar a ser vivo
E engolir uma afronta tamanha. Clamando pela vingança
Ergue-se numa massa o forte, o fraco, o jovem, o velho, a criança!
Camuflando ambições mesquinhas e triviais
Cavaram-se, entre irmãos, ódios sangrentos, fatais
Irmãos porque o sangue ancestralmente indiano.
E contudo no Cutch, Rajastan, e Lahore
Lutas fracticidas semearam o ódio e pavor
Destruindo sem dó nem piedade
As choupanas da aldeia e os Palácios da Cidade.
Hospitais, pontes, estradas e templos religiosos
São o pasto cotidiano desta horda de raivosos
Que em nome de Alah, único e sempiterno
Transformam a vida do próximo num inferno
Descendo como os hunos em famintas alcateias
Para pilhar, matar e estruprar em mansas aldeias
Onde o suave e fraternal credo gandiano
Proíbe a violenta efusão de sangue, a mentira, o engano
E é nestes sítios ermos e mal guarnecidos
Onde os habitantes modestos aldeões esquecidos
Das velhas perfídias, que este nosso irmão esquisito
Na embriaguez dum ódio ciumento de proscrito
Ao abrigo enigmático, doloso do cessar do fogo
Vai consolidando o seu sinistro jogo de aproveitar da nossa cândida seriedade
De acatar ordens e aumentar a velocidade
Os seus ataques tendo sempre em mira
A conquista do velo de oiro o paraíso de Caxemira.
Nesta pretensão injusta não vê que arrasta
O mundo inteiro a uma crise perigosa, nefasta
Em que ódios recalcados com hipocrisia
Mostram a calva ignóbil a luz crua do dia
E a patita dos índios este subcontinente tentador
Cimentado com tanto sangue, lágrimas e dor
Será o palco onde nações de continentes diversos
Mal avindos entre si e professando ideais adversos
Virão cevar seus ódios em território alheio
Que é afinal das contas o profícuo meio
De guardar longe das bélicas calamidades
O seu povo, as suas aldeias, as suas cidades
Mas esta miragem tentadora embriagante
Da Paquistão, que era promessa abiciante
Para nossos falsos amigos das bandas ocidentais
Foi uma das lições que não se olvidam nunca mais
Pois a Índia velho gigante que outrora tem vencido
Nas florestas insondáveis do seu torrão natal
Onde hunos, mongóis, e europeus tiveram um declínio fatal
Sacudiu seus membros possantes anquilosados
Por inúteis austeridades e ruinosos tratados
E com uma fé ardente nos destinos da sua pátria
Ergue-se arrogante, digno como o lendário Chatria
Para defender não somente seu património ancestral,
Mas numa luta sagrada do Bem contra o Mal,
Salvaguardar esta nobre e secular democracia
Contra uma nefasta e ditatorial teocracia
Que tenta arrasar para sempre da Sociedade
Este último Bastião Asiático da Liberdade!

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