Tuesday 31 May 2011

Visnum Porobo Sincró - O Dinheiro (1966)

O que mais atrai neste mundo o homem,
Que mais o preocupa e o atrapalha deveras,
Tornando o louco às vezes e insensato,
É o Dinheiro... esse espectro vivo
Que corrompe ainda um santo!
Convertendo-o em demónio vivo,
É ele a causa das lutas fratricidas,
Dos combates sangrentos perenes,
Das mudanças dos governantes,
Assunto do dia, sonho dos pobres,
Melodia dos judeus, cobiça dos Reis;
Universidades novas, fábricas...
Tudo enfim que é bom e ruim,
É originando por esse ente misterioso!

Adolfo Alcântara Vás - Quem dá aos pobres (1962)

Já lá vão anos…! Nem posso saber quantos eles são, porque eu vivia ainda no… mundo dos possíveis. Morava numa aldeia um indivíduo de nome Shricanta. Possuía pequenos campos de cultura que herdara dos seus antepassados. As rendas que usufruía destas terrinhas davam-lhe o suficiente para viver com a sua mulher e filhos, sem as preocupações que criam no lar uma atmosfera de mal estar e desarmonia.

Shricanta era, a um tempo, honesto e caritativo. A pesar de modesto no seu viver, sem dinheiro para dar ou emprestar, nunca pessoa alguma que tivesse recorrido à sua generosidade voltara com as mãos a abanar. Efectivamente, era grande o número de infelizes e desprotegidos da fortuna que estorvavam o seu sossego. De tal maneira esta coorte de famintos importunava o bom homem que Shricanta, muitas vezes, fazendo falta ao seus, lhes dava tudo quando pudesse e sempre a mãos cheias. A sua cara metade não via com bons olhos a excessiva generosidade de Shricanta. Porém, o seu espírito compassivo não se estancava perante as lamúrias da sua mulher, nem a coscuvilhice dos vizinhos que se riam dele à socapa. Pois o seu coração de oiro derretia-se em amabilidades para acudir, como bom pai e bom vizinho, à miséria do próximo e a pobreza envergonhada dos seus coaldeanos.

O soberano daquela terra, conhecedor destas belas qualidades destas belas qualidades de Shircanta, sobretudo da sua impoluta honestidade e fidelidade inconcussa, convidou-o para o cargo de dizimeiro. Nesta sua qualidade, Shricanta obrigava-se a entrar todos os anos com a importância de oitenta laques de rupias no cofre do Estado, cobrando para tanto dos seus proprietários o onzenários a décima parte da sua renda que se chamava dízimo.

Era este o sistema de cobrança em vigor entre os governos antigos.

Como dizimeiro do Estado, Shricanta tinha as casas recheadas de: arroz, areca, castanha... sei eu lá que mais! Tinha, além disso, cofres à prova de fogo, onde vinha guardando o produto da cobrança, da venda das cotas partes das produções que ia arrecadando.

A casa de Shricanta era agora uma das mais abastadas da região, não faltando bois, cavalos, burros e mais serviçais encarregados de transporte, de secagem e de armazenagem dos produtos arrecadados.

Nesta sua vida desafogada, Shricanta não se entregara ao vício de beber, jogar, nem fumar; e podia-se dizer dele, como outrora diziam do Imperador Tito: “Delícia do Género Humano”.

A sua virtude era dar de comer a quem tivesse fome e vestir a quem tivesse fome e vestir os nus e esta sua generosidade chegara a tal ponto que estes mesmos infelizes, a quem o bom do homem socorria nas suas aflições nunca lhes negando coisa nenhuma, abusavam destas suas boas qualidades do seu espírito compassivo e Shricanta não só lhes dava o que era do seu, mas ainda não hesitava em dar o que pertencia ao Estado o que era da sua responsabilidade.

Talvez o próprio Rei do Universo, para ver até que ponto ia a generosidade do nosso bom homem, fez com que houvesse no reino uma situação anormal: houve falta de chuva. Os campos onde se lançara a semente: tornaram-se secos, apresentando gretas.

Dias após passavam e as chuvas não apareciam. O vento seco que soprava fez crestar as plântulas sem mais esperança de uma grão sequer. Em toda a parte reinava a fome e a desolação e a população sôfrega e ociosa não se fartava de pedinchar a Shricanta bagos de arroz da colheita do ano anterior, para não morrer à fome. Mesmo os animais não tinham feno e os bois, quer por falta de água, quer por falta de ervas, mugiam de fome e de sede. E então Shricanta a todos ia satisfazendo o pedido, nunca pensando no dia de amanhã.

Famílias e mais famílias consumiam os seus bem providos celeiros assim como a última moeda dos seus cofres.

Chegara assim o último dia em que Shricanta tinha de encontrar com oitenta laques à boca do cofre do Estado. Não tinha nada, ainda no seu cofre particular aliás sempre bem repleto. Mesmo algumas jóias da sua mulher tinham sido vendidas e outras empenhadas para acudir aos famintos. No transe em que se encontrava, ninguém lhe podia valer. E o bom do homem, por não ter satisfeito os seus compromissos no dia aprazado, no meio da escolta armada foi conduzido à prisão. Convencia-se o réu que o dizimeiro não era aldrabão. Havia gente que compartilhava na sua dor e outros que cochichavam entre si sobre a situação criada pelo nosso dizimeiro. Mas dura lex sed lex.

Tinha de ser cumprida a lei e Shricanta com o seu sangue frio, sem o menor vislumbre de descontentamento, decide-se a cumprir não só a pena de prisão mais ainda outra mais grave que o rei entendesse dever aplicar-lhe. Vê, porém, com indignação, na contrariedade e depressão do espírito por que passa, aqueles mesmos que estendiam a aba da sua túnica para uma côdea de pão ou punhado de arroz afastarem-se dele.

É assim o mundo. Existem homens que reconhecem os favores recebidos e outros que os pagam com a ingratidão. Mas não há bem que não tenha a sua recompensa. E esta, cedo ou tarde, vem do Altíssimo que sempre acolheu com carinho as pessoas de bem. Em recompensa da generosidade sem limites de Shricanta, um milionário da terra vizinha, que ouvira a triste história, disfarçado em camponês, vinha até a tesouraria do Estado depor um cheque de oitenta laques que Shricanta tinha de pagar. Não só isto, os seus celeiros estavam outra vez cheios e o rei da terra, maravilhado com as cenas que passavam, mandava pôr em liberdade o pobre Shricanta, que dali em diante, viveu anos felizes com a sua mulher e filhos, reconhecendo sempre a magnanimidade do seu benfeitor desconhecido.

Remígio Botelho - E Agora? (1966)


E agora
A paz orvalhada
Da Madrugada…
E um povo que chora
Desconsolado
Seu filho amado.

É finda a labuta…
E a luta
Entre gente irmã…
E agora –
Nessa manhã
Consoladora,
Só a paz dos céus,
Sob o perdão de Deus.

Monday 30 May 2011

Mahianda Das - O Poço Mágico (1954)

Através dos tempos imemoriais aquelas extensas várzeas ao longo da margem direita do rio Sal nunca produziram além duma espiga ao ano. As terras eram férteis na sua grande totalidade, mas a produção de arroz era muito fraca por causa dos métodos obsoletos empregados no seu amanho. Os agricultores nunca conheceram as vantagens dos adubos genuínos. E, assim, de geração em geração, a rotina se manteve sem sofrer qualquer alteração.

Tudo dependia da monção. Quando ela chegasse nos fins de Maio, os corações dos agricultores regogitavam de alegria. Havia azáfama em todo o povoado porque se ia lançar a semente à terra e em breve os celeiros novamente se encheriam de grãos de oiro.

A maioria das várzeas eram propriedades particulares e estavam arrendadas. Poucos proprietários as cultivavam directamente. Os filhos dos batcarás tinham vergonha de cultivar as terras dos seus antepassados e como tal preferiam arrendá-las aos antigos manducares. As rendas que estas pagavam eram exorbitantes. Nunca, porém, protestaram contra elas. Diziam eles que nem sempre podia continuar este estado de coisas e preferiam fazer sacrifícios no presente. Num ano a monção foi um verdadeiro fracasso. A produção de arroz nem chegou a compensar os trabalhos de amanho e monda. Perante esta catástrophe os agricultores reclamaram. Exigiram uma pequena redução nas rendas. O pedido não foi atentido pelos proprietários e os agricultores tiveram de contentar-se com a sua sorte.

Estava-se no mês de Maio – época em que toda a população se dedica ao trabalho das terras. Foi então que chegou a notícia do regresso de Eddie. Ninguém acreditava nela. Eddie, quando estivera pela última vez na aldeia, despedira-se da sua família e amigos para sempre. Toda a gente sabia que Malú chorara a partida do seu amigo – que nunca mais voltaria a vê-lo. Como é que, ele agora tinha voltado? Ninguém, ninguém mesmo na várzea dava ouvidos à notícia.

Mas logo à noitinha a nova foi confirmada por Manuel na taberna do tio Santana, que vira a filha de Maria Josefa a transportar a bagagem de Eddie. Em face desta confirmação todos se calaram e pouco depois a taberna estava deserta.

No dia seguinte, Francisco foi o primeiro que se avistou com Eddie. Estava ansioso por saber se de facto este vira nas terras longíquas do norte.

Francisco era um jovem agricultor completamente agarrado à terra que os seus pais tinham cultivado, mais de meio século. Vivia esperançoso de um dia vir a ser o senhor da mesma porque, dizia, tinha sacrificado tudo por ela. Queria adquiri-la mas faltavam-lhe recursos. E quando surgia a questão do dinheiro o seu sonho desvanecia-se. Perguntava-se muitas vezes “onde vou arranjar o dinheiro?...”

Eddie voltara encantado de Batinda. Durante a sua estadia de quase um ano vira com os seus próprios olhos como o esforço colectivo podia operar milagres. Efectivamente, Batinda era um “milagre humano”. Estradas novas, bibliotecas, dispensários, tinham sido contruidos graças a trabalho voluntário. A indústria e a agricultura, esta em especial, haviam sofrido transformações radicais graças aos novos métodos de cultura. A construção do “tube-well” – ao qual o povo chamava “poço mágico” – revolucionara totalmente a vida do agricultor de Batinda. Já não tinha de esperar pela monção para lançar a semente á terra. Os dias negros pertenciam ao passado. Tinha agora água de fartura e, pela primeira vez, as terras de Batinda produziam a segunda espiga.

Francisco, que seguira com vivo entusiamso a descrição, não podendo conter-se, perguntou:

- Então porque não se há-de tentar o mesmo na nossa aldeia? Afinal o povo não é o mesmo em toda a parte?

Eddie encolheu os ombros e ia a responder quando novamente foi interrompido por Francisco que lhe disse: “havemos de repetir a experiência de Batinda.”

À noite, na taberna do tio Santana, Francisco contou a seus amigos a conversa que tiveram com Eddie. Ninguém o levou a sério. Mas Francisco insistiu nas vantagens que adviriam da construção do “poço mágico”. Duplicaria a produção – argumentava – e qualquer dia estariam todos em condições de comprar as terras que cultivavam. Saíram da taberna quase à meia noite, mas ninguém apoiava o plano de Francisco.

Duas semanas após o seu regresso, Eddie tomou a resolução final: não voltaria mais à capital. Decidira auxiliar o pai na cultura das várzeas. Esta decisão confiou-a Eddie a seu amigo Francisco que pulou de alegria. Agora sim – dizia – havemos de construir o “poço mágico”.

No entanto, a monção novamente foi caprichosa. Os agricultores estavam alarmados. Mais um ano de seca por certo – era a convicção geral. O fracasso da monção convenceu-os da utilidade do plano de Francisco e, um dia, todos se reuniram em casa de Eddie. Os agricultores desejavam saber quanto seria o custo da construção do “poço mágico”. Eddie desdobrou o ante-projecto. O poço custaria seis mil rupias, a compra do motor eléctrico três mil rupias e a montagem mais umas centenas. Total dez mil rupias. Reinou completo silêncio entre os agricultores. Francisco fez-se pálido. Onde iriam arranjar esses milhares de rupias? Todos eles estavam endividados.

Eddie sentiu-se atrapalhado perante o silêncio dos agricultores. Não sabia o que devia fazer. Pôs-se a enrolar e desenrolar o papel que tinha nas mãos. Francisco quebrou o silêncio. “Se pedíssemos um empréstimo à Caixa Económica?” - perguntou. Um dos outros avançou e pôs a rídiculo a ideia. Como é que iam adquirir esse empréstimo, sob que garantia? Todos eles não tinham mais que meia dúzia de cabeças de gado. E a ideia do empréstimo foi posta de parte por não ser viável.

A reunião ia encerrar-se quando Eddie se levantou e disse: “Em menos de uma semana havemos de saber se levaremos avante ou não o nosso plano”. Os agricultores saíram cabisbaixos – pessimistas.

Efectivamente, alguns dias depois Eddie foi à taberna do tio Santana. Estavam ali Francisco e os restantes. Ficaram surpreendidos com a visita inesperada. Eddie dirigiu-se-lhes: “Tenho uma grande nova a dar-vos. O poço vai ser construído à minha custa”. O poço... o “poço mágico” – gaguejava o Francisco, de alegria. E nessa noite os homens beberam até de madrugada para celebrarem o começo da nova era...

A notícia da construção do poço corre pela aldeia. Em toda a parte se falava da experiência de Batinda, mas os cépticos diziam: “cada terra com seu uso e cada rosa com seu fuso”. O cepticismo, porém, foi dando, pouso a pouso, lugar à guerra fria. Os mal intencionados procuravam matar a ideia à nascença. Serviram-se de todos os meios – até de cartas anónimas.

Entrementes, os preparativos da construção do poço iam adiantados. O técnico era esperado em breve. O material, incluindo o motor, já se encontrava no porto de Mormugão, aguardando que fossem ultimadas e algumas formalidades burocráticas.

Oito meses após aquela reunião em casa de Eddie deu-se início à obra. Os trabalhos decorriam lentos mas com segurança. O entusiasmo entre os agricultores atingia o rubro. Aguardavam o grande dia em que a água surgisse do poço e inundasse todas aquelas vázeas. Ao lado do poço fora preparado o terreno para a construção da granja onde seriam ensaiadas novas sementes.

Em menos de meses aquelas extensas várzeas tinham um outro aspecto. O poço dominava-as, enquanto pequeninos canais de cimento armado estavam quase prontos a distribuir a água por toda a parte.

Enfim o grande dia chegou. Na véspera o técnico elimara as ligeiras deficiências que notara na montagem do motor e estava certo de que tudo correria sem nenhum incidente. A inauguração do poço tinha sido marcada para a noite. Na granja foi erecto um pavilhão que estava feericamente com bicos de luzes multicores. Não houve discursos nem foguetes. Uma garota simpáticas, filha dum agricultor, premiu uma mola e a água começou a subir lentamente e pouco de depois lançou-se pelos canaizinhos. O silêncio que se fizera quebrou-se e a imensa mole de gente deu largas à sua alegria... O entusiasmo popular era indescritível Dançou-se e cantou-se até às primeiras horas da madrugada.

Francisco disse a Eddie qualquer coisa sobre a água que sorria para aquelas várzeas. Falou também da terra e da vida do povo. O outro, porém, não o escutou: estava triste no meio daquela alegria espontânea porque entre tanta gente não via a mulher que amava...

Wednesday 25 May 2011

Beatriz Ataíde Lobo de Faria - Paz na Terra (1957)

Bertila estava sentada à janela, a meditar a sua vida que se esvaía num viver monótono. Era penoso constatar: ela não vivia – vegetava. Nada lhe interessava no mundo: pobres, crianças, órfãos, doentes, parentes, vizinhos...

Festas religiosas e festas cúreas, nascimentos e casamentos roçavam por ela sem originar o mais ténue frémito de alegria no seu coração apossado de tédio e indiferentismo. E inquietava-a um permanente vácuo...

A vizinha de frente saiu da casa com um rolo de esteira de bambu e um alvo lençol sobre o ombro. Estendeu ao sol a esteira e sobre ela o lençol. Cumprimentou a Berila.

- Então, que é isso? Perguntou Berila, esboçando um sorriso.

- Vou expor ao sol os mandarês. Preparativos para a consoada de Natal.

- É verdade. Já está próximo. Era de facto época de Natal. Faltavam só oito dias. Ela nem dera por tal. Era preciso preparar a consoada pois na sua terra havia o costume de trocar os presentes. Era só por isso que Bertila pensava agora na consoada. Não por ela que de tudo se aborrecia, não pela sogra achacosa e meio tonta, não pelo marido dispéptico – mas para corresponder ao brinde das vizinhas.

Festa de Natal. Na igreja haveria bodo aos pobres e crianças. Porém, a ele assistiram só os que podiam deslocar-se até lá. José, aquele rapazinho gárrulo e guapo que a poliomielite prendera à enxerga, esse não desfrutaria do prazer de comer os bolos, juntamente com os da sua idade, no adro da igreja. E enquanto os irmãozinhos, envergando factos domingueiros, corressem entusiasmados para o bodo, ele faria aborrecer à mãe com o seu choro cantarolado:

- Leva-me, mãe, eu também quero ir...

Mas a mãe não ligaria, habituada a ouvir a toada. Os seus braços doridos pelo trabalho extenuante para a manutenção de 3 crianças (uma delas entravada) já não podiam aguentar com o peso do José que ia crescendo no catre de dor...

Raiou o dia de Natal.

Bertila, saindo do seu torpor moral, preparara a consoada e mandara uma boa parte para o José.

O carro que chamara, para ir dar as boas-festas à mãe velhinha, já estava à porta quando crianças em bandos, passaram chilreando quais passarinhos, de caminho à igreja. E logo ouviu-se o choramingas do José:

- Leva-me, mãezinha, eu quero ir também!...

Porém, ao contrário, do que sucedia em outros dias, a mãe também se lamentava, em voz alta e chorosa:

- Ai que triste sorte a minha! Se o teu pai vivesse poderia levar-te ao colo, meu querido filho, mas eu não posso!

- Leva-me de carro, mãe!

- Santo Deus! Os carros não foram feitos para passeios de pobres como nós!

Bertila não soube o que se passara dentro do seu peito. Os seus ouvidos só ouviam o eco das últimas palavras do José: leva-me de carro, mãe! Um eco que se repetia estridente, implacável, a martelar-lhe os ouvidos.

No seu guarda-roupa estava o fato que ela comprara há dois dias para oferecê-lo ao José. Mas lembrara-se do cheiro desagradável daquela enxerga onde o rapaz jazia noite e dia e pensara que o fato podia ter melhor aplicação.

Mas aquele eco!... Não era bem o eco da voz meiga do pequeno. Era uma voz ameaçadora que parecia sair de cada móvel do seu quarto: Leva-o de carro!

Bertila saiu do seu palacete e entrou no casebre do José. Dirigiu-se à mãe e disse: Vamos levar o pequeno.

E como ela a olhasse espantada, explicou, mostrando o fato que levara: Vou levá-lo de carro para o bodo.

Bem levado e vestido, José dirigiu-se para o carro nos braços da mãe.

A alegria que se estampou no seu rosto pálido quando viu as crianças aglomeradas em redor da Árvore de Natal, o olhar extasiado com que contemplou o Presépio na Igreja, foram de grande compensação para o gesto de Bertila. E enquanto a mãe do José, ajoelhada aos pés do Menino Jesus, agradecida à sua benfeitora, pedia para ela bênçãos celestes, lágrimas de alegria desciam pelas faces de Bertila, desfazendo o seu egoísmo e comunicando-lhe a alegria de viver, inundando, ao mesmo tempo, o seu coração duma suave paz – aquela doce paz que Jesus prometeu na terra.

Wednesday 18 May 2011

Evágrio Jorge - Bocage (1966)

Festejou-se, em 5 de Setembro do ano findo, o segundo centenário do nascimento de Bocage, grande figura da literatura portuguesa do século XVIII.

Na sua obra há de tudo: odes, canções, sonetos, apólogos. Epigramas, poesias comovidas e versos fesceninos, atribuindo-se também ao seu feitio picaresco todas as anedotas de que há memória, com sabor picante. Os seus sonetos são maravilhosas peças literárias.

O facto passou despercebido neste meio, que só há cinco anos, se libertou do jugo português. Mas o jugo politico é uma coisa e outra o intercâmbio cultural, a que todos os povos devem aspirar, para maior aproximação da humanidade e a realização do ideal de um Mundo Unido (One World).

Acresce a circuntância de Bocage ter pisado este solo, de ter estado entre nós dois anos e pico e de ter deixado anotadas observações picantes a respeito das mazelas da sociedade goesa de então.

Notas biográficas

Nascido em 1765, filho dum português e duma francesa, Manuel Maria Barbosa du Bocage cedo manifestou propensão às letras. Findo o ensino secundário, assentou praça no regimento de infantaria de Setúbal, sua cidade natal. Em Setembro de 1783 teve passagem para a armada real na classe de guarda-marinha e ingressou na Academia Real de Marinha de Lisboa.

É na capital portuguesa que começa a granjear fama como poeta, principalmente pelos seus imprevistos. A sua tendência para a sátira e o seu espírito irrequieto trazem-lhe os primeiros desgostos.

Em 14 de Abril de 1786, Bocage embarca para a Índia na nau Nossa Senhora da Vida, nomeado Guarda-Marinha para o Estado da Índia. Não se sabe porque se teria abalançado a essa viagem pelo Oriente, se pelo desejo de imitar Camões e de evocar glórias que inspiraram os Lusíadas ou se por ser um simples espírito aventureiro. O certo é que deixou o país e com ele a sua bem-amada Gertrúria:

Deixar, amado bem, teu rosto lindo

Teus afagos deixar, tua candura

Tanto me oprime, que da morte escura

Sobre mim negras sombras vem caindo.

Podemos ter alguma ideia dos seus anseios por estes versos:

... Um vivo ardor de nome, e fama

À nova região me atrae, me chama

Os mares vou talhar, cujos furores

Descreve o gran cantor...

Quer a sorte, propicia a meu desejo

Manda-me a Honra, cujas aras beijo,

Que como férvido brio

Contemple os muros da invencível Diu.

Nos climas, onde mais do que na história

Vive dos Alburquerques a memória;

Vou ver se acaso a meu destino agrada

Dar me vida feliz, ou morte honrada. 

A nau em que viajava atracou, de passagem, no Rio de Janeiro, onde o governador recebeu-o com grande afabilidade e apresentou-o à melhor sociedade. Durante as poucas semanas que lá esteve, captou simpatias, insinuou-se, prendeu corações.

Gana aos mestiços 
A 29 de Outubro, aporta a Goa – terra da Índia que captara a sua imaginação e que bem cedo lhe traria grandes desilusões. É que Bocage veio encontrar aqui uma sociedade estratificada em uma variedade de castas, não só as castas seculares da gente da terra (com quem aliás parece não ter entrado em contacto), mas a prosápia dos mestiços e dos reinóis que, mal postos os pés na Índia, tratavam de passar por fidalgos.

Em uma dúzia de sonetos que compôs sobre o assunto, Bocage fala de dificuldade insuperável de

Exterminar de Goa a senhoria 
Vou reproduzir em seguida dois sonetos deste género, dos mais virulentos (parece que o poeta tinha gana somente ao mestiço):

Das terras a pior tu és, ó Goa

Tu pareces mais ermo, que cidade;

Mas alojas em ti maior vaidade

Que Londres, que Paris, ou que Lisboa!

A chusma de teus ínculas pregoa


Que excede o grão Senhor na qualidade;

Indo quer senhoria; o próprio frade

Alega, para ter lá, a justiça da c’roa!


De timbres prenhe estás, mas ouro e prata

Em cruzes, com que dantes te benzias

Foge a teus infanções de bolsa chata


Oh que feliz e esplêndida serias

Se algum fusco Merlim, que faz bagata

Te albarcasse a pardaus as senhorias!


Lusos heróis, cadáveres cediços

Erguei-vos dentre o pó, sombras hauradas

Surgi, vinde exercer as mãos mirradas

Nestes vis, nestes cães, nestes mestiços!


Vinde salvar destes pardais castiços

As searas de arroz, por vós ganhadas;

Mas ah! Poupei-lhes as filhas delicadas

Que elas culpa não têm, têm mil feitiços;

De pavor ante vós no chão se deite

Tanto fusco rajá, tanto nababo,

E as vossas ordens trémulo respeite:


Vão para as várzeas, leve-os o Diabo:

Andem como os avós, sem mais enfeite

Que o langotim, diâmetro do rabo 


Bocage residiu em Goa vinte e oito meses. Matriculou-se, por duas vezes na Aula Real da Marinha, mas viu se forçado a interromper a frequência, de uma vezes em razão duma doença grave, ocasionada pelos excessos de beber e fumar.

Quando se restabeleceu dessa letal doença, ficou soçobrado com a notícia chamada Conspiração dos Pintos, a primeira tentativa de revolta dos goeses contra o domínio português, com o fim de expulsar os europeus e estabelecer uma república constitucional. Essa revolta devia deflagrar a 10 de Agosto de 1787, mas foi abafada a tempo devido à denúncia e defecção de alguns.

Eis como Bocage, na Epístola a Josino, descreve o perigo a que esteve exposto – ele e a sua guarnição:

Ah Josino fiel! Que horror faz guerra

Aos tristes olhos meus nestes lugares,

Onde me pôs a Sorte, onde me encerra!


Sem medo à fúria dos terríveis mares

Vim do culto, benéfico ocidente

Viver com tigres, habitar palmares.


Aqui tórrida zona abafa a gente,

Ferve o clima, arde o ar e eu o não sinto,

Que tu, fogo de Amor, és mais ardente;


Aqui vago em perpétuo labirinto

Sempre em risco de ver o maligno braço

No próprio sangue meu banhado e tinto;


Mas caso dos perigos eu não faço

E é que posso temer, quando procura

Rasgar da frágil vida o ténue laço?


Uma alma infame, um bárbaro inimigo

Da fé, das leis, do trono, um desumano

Credor de eterno, de infernal castigo


Tendo embebido seu furor insano

Na falsa gente brâmane inquieta,

Que amaldiçoa o jugo lusitano,


Contra nós apontava a mortal seta:

E já destes, oh réus de atroz maldade,

Em vis teatros o final suspiro


Eis, amigo, a recente novidade,

Que da remota Goa ao Tejo envio

Nas murchas, débeis asas da saudade.

No idílio Nereida, Bocage diz-nos que entrou em combate nas alturas de Chaúl. Seria em virtude destes serviços prestados que foi promovido a tenente de infantaria para o regimento da Praça de Damão, aonde parte a 14 de Março e chega a [missing] de Abril de 1789. Passados dois dias apenas, ausenta-se pela porta do campo, com o alferes Manuel José Dionísio, com destino a Macau.

Quais seriam os motivos dessa deserção?

Pelos modos, vários.


Decadência de Goa

Logo no princípio, vê a decadência de Goa, da sua pristina glória:

Por terra jaz o empório de Oriente

Que do rígido Afonso o ferro, o raio

Ao gran filho ganhou do gran Sabayo

Envergonhando o deus armipotente:


Caiu Goa, terror antigamente,

Do naire vão, do pérfido malaio,

De bárbaras nações!... Ah! Que desmaio

Apaga o márcio ardor da lusa gente?


Os séculos d’heróis! Dias de glória?

Varões excelsos, que apesar da morte

Viveis na tradição, viveis na história!


Albuquerque terrível, Castro forte,

Meneses, e outros mil, vossa memória

Vinga as injúras, que nos faz a sorte. 

Não teria achado em Goa a Índia dos seus sonhos, de um lado uma terra assimilada, aportuguesada, cristã, com uma sociedade homogénea como a de Portugal, e de outro, bárbaro pais, bárbaras gentes com quem dissera iria trocar do Tejo a margem deleitosa.

A sua posição subalterna de simples Guarda-Madrinha tê-lo-ia conservado longe da sociedade rigidamente hierarquizada do tempo – brâmanes, chardós, mestiços e reinóis. É como, a cada passo, fustiga:

Tens várias casas, armazéns de ratos,

Tens febres, mordexins em demasia,

De que escapamos a poder de tratos:


Mas a tua pior epidemia,

O mal, quem em todos dá, que produz flatos,

É a vã, a negregada senhora. 

Essa torrente de versos mordazes sobre os habitantes de Goa tornaram-no odiado por quase todos. E as suas setas não pouparam ninguém. O próprio Governador, D. Frederico Guilherme de Sousa foi ferido no poema erótico A Mantegui. A referência era a uma senhora de Damão, filha de francês e de mestiça, D. Ana Jacques Mondotegui, apelido este que Bocage por eufonia transformou em Montegui. Bem prendada, gentil e bela, esta senhora possuía admiradores e apaixonados. Entre eles contavam-se o Governador e o poeta Bocage, que lhe dedicou alguns versos.

Exaltado e impaciente, faltava-lhe preparação e pachorra para estudar a fundo a religião, a cultura, os usos e costumes do povo indiano. Daí versos como estes da citada Epistola a Josino:

Enche-me, sim, de horror o culto impuro

Ídolos vãos, sacrílegos altares,

Vis ceremónias deste povo escuro.


Eterno Deus! Não longe de teus lares

Tépida nuvem de maldito incenso,

Dado ao negro Satã, perturba os ares


Que intolerância tens, monarca imenso!

Por mais crimes, senhor, que o mundo faça,

Tudo releva teu amor intenso


Deus, ah desce dos céus, potente graça

Difunde a santa luz, a santa crença

Pelos cegos mortais, que o erro enlaça! 



O nosso clima quente, trazendo no seu encalço várias doenças, como febres e mordexins, tê-lo-ia aborrecido até ao extremo, sobretudo depois da grave enfermidade de que dá assim conta ao seu Josino:


Volto, Josino, a ti, letal doença,

Do báratro surgiu, veio intimar-me

A antiga, universal, cruel sentença:


Negras fauces abriu para tragar-me,

Porém cedeu, rugindo, à voz divina

Quem a vida, a meu pesar, quis conservar-se. 



A sua amada 
A nostalgia teria também asfixiado a sua alma de romântico. Na sua debandada à Índia, teria talvez intervindo o cálculo de melhorar a sua sorte e desposar Gertrúria, sua primeira paixão. Na epístola que lhe dirigiu declarou com franqueza:

Vim, só por me fazer de ti mais digno,

A climas, do meu clima tão remotos. 


No soneto que lhe dedica ao partir para a Índia declara:

Com todo o seu poder não pode a sorte

Tua imagem riscar desta alma aflita!

Mas cedo entra a desconfiança no seu espírito atribulado:

O Terra! Oh Céu! Mentiram-me os brilhantes

Olhos seus, onde achei suave abrigo;

Quão fáceis de enganar são os amantes! 


Num outro soneto é ainda mais claro:

Inda em meu frágil coração fumega

A cinza desse fogo em que ele ardia;

A memoria da tua aleivosia

Meu sossego inda aqui dessassossega. 



No seu coração arde a chama da Dúvida e do Ciúme:


Vê-se arder, fumegar sulfúreo lume

Que estrondo! Que pavor! Que abismo infando

Mortais, não é o inferno, é o Ciúme!

Mas eis aqui um sonho puro:

Sonhei que nos meus braços inclinado

Teu rosto encantador, Gertrúria, via;

Que mil ávidos beijos me sofria

Teu níveo colo, para os mais sagrado.


Sonhei que era feliz por ser ousado

Que o sizo, a força, a voz, a cor perdia

Num êxtase suave, em que bebia

O néctar nem por Jove inda lidado:


Mas no mais doce, no melhor momento,

Exalando um suspiro de ternura

Acorda, acho-te só no pensamento:


Oh destino cruel! Oh sorte escura!

Que nem me dure um vão contentamento!

Que nem me dure em sonhos a ventura! 



E logo outra vez a dúvida:


Receio que, por minha adversidade,

Novo amante sagaz e lisonjeiro

Macule de teus votos a lealdade:


Ah! Crê, bela Gertrúria, que o primeiro

Dia, em que eu chore a tua variedade,

Será da minha vida o derradeiro


Eu deliro, Gertrúria, eu desespero

No inferno de suspeitas e temores.

Eu da morte as angústias e os horrores

Por mil vezes sem morrer tolero;


Pelo céu, por teus olhos te assevero

Que ferve esta alma em cândidos amores;

Longe o prazer de ilícitos favores!

Quero o teu coração, mais nada quero.


Ah! Não sejas também qual é comigo

A cega divindade, a sorte dura,

A vária deusa, que me nega abrigo!


Tudo perdi; mas valha-me a ternura.

Amor me valha, e pague-me contigo

“Os roubos, que me fez a má ventura” 


Quem era essa Gertrúria? Gertrúria é alteração de Gertrudes, primeiro nome de D. Gertrudes Homem de Noronha Eça, filha do coronel de infantaria João Homem da Cunha de Eça, Governador da Torre do Outão, em Setúbal.

Teria Gertrúria permanecido fiel ao poeta, que a colocara firme no nicho do seu coração desde os primeiros momentos em que lá entrou, durante a sua viagem à Índia e à China e até o seu regresso à pátria?

Antes de responder a esta pergunta crucial, ouçamos mais um soneto pungente de Bocage:

Do Mandovi na margem reclinado

Chorei debalde minha negra sina,

Quel o mísero vate de Corina

Nas tomitanas praias desterrado:


Mais duro fez ali meu duro fado

Da vil calúnia a língua viperina;

Até que nos mares da longínqua China

Fui por bravos tufões arremessado:


Atassalhou-me a serpe, que devora

Tantos mil, perseguiu-me o grã gigante

Que no terrível promontório mora;


Por bárbaros sertões, gemi vagante;

Falta-me inda o pior, falta-me agora

Ver Gertrúria nos braços doutro amante! 


E assim aconteceu. Quando em 1790 regressou de Macau a Portugal, com grande vontade de abraçar os parentes e os amigos e, acima de tudo, tornar a ver a sua Gertrúria, fica ferido por um golpe fundo ao saber que Gertrúria o trocara pelo irmão Gil, formado em leis em Coimbra, e que o seu próprio pai acariciara este enlace!

Esta tripla traição desnorteia-o por completo. Vagueia ao acaso, dorme nas celas dos conventos ou em quartos dos amigos. Outras amantes vão entrando no seu coração: Marília, Armia, Anália, Márcia, sei lá! Torna-se a alma de Lisboa, conquista um auditório que o ouve com simpatia e arroubos, publica o primeiro volume das suas Rimas, é convidado a fazer parte da Academia das Belas Letras ou Nova Arcádia.

A par de admiradores cria também adversários graças aos seus versos satíricos. Estes aproveitam das ideias novas de liberdade que sopravam da França e de que o poeta era franco partidário, para o encarcerar. A epístola Parvorosa Ilusão da Eternidade serviu-lhes de pretexto. Passou-se isto a 10 de Agosto de 1797.

Os anos de prisão fizeram-lhe bem. Acalmaram um pouco a excitação nervosa, o génio impetuoso, e proporcionaram-lhe tempo para lidar com livros valiosos e doutos trades (sic). Depois de sair do cárcere, foi tratar da sua irmã Maria Francisca, desamparada dos seus, tornando-se um verdadeiro chefe de família.

E a 21 de Dezembro de 1805, pelas 10 horas e um quarto da manha fechava os olhos à existência este poeta assombroso que tomara o grande Camões como modelo:

Camões, grande Camões, quão semelhante

Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,

Arrostar c’o sacrilégio gigante:


Como tu, junto ao Ganges sussurante,

Da penúria cruel no horror me vejo;

Como tu, gostos vãos, que em vão desejo

Também carpindo estou, saudoso amante:


Ludíbrio, como tu, da sorte dura,

Meu fim demando ao céu pela certeza

De que só terei paz na sepultura:


Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!

Se te imito nos transes da ventura,

Não te imito nos dons da natureza. 



É desta envergadura o poeta português, a que presto hoje a minha homenagem.

Sunday 15 May 2011

Cyrano Valles - Horizonte Perdido (1976)

Palmeiras hirtas e mudas
No triste esmaecer da tarde…

Horizonte perdido
C’o sol Escondido
Nas negras nuvens paradas…

Ondas frouxas, cansadas
Morrendo à beira-mar…
Vultos cinzentos
“Boa Note! Boa Noite!”

Imagens inquietas
A flutuar na ânsia
Dos meus sonhos –
Saudades mortas

Surgindo vertiginosas 
Do horizonte perdido.

António Laranjo - Finis Est

Acabou-se, Amor, acabou-se
Acabou-se a nossa alegria
Podes ter tudo com reforço
Mas, faltar-te-á a minha companhia

Tu, sentada no jardim
Com um bouquet no regaço
Armaste a rede para mim
E, eu ingénuo caí no laço

Se hoje, remorso te consome
Por favor, não chores em meu nome
Não te quero mal e dou-te o perdão

E, se um dia tiveres fome
Vem junto de mim e come Do meu agasalho e pão

Saturday 14 May 2011

Laxmanrao Sardessai - Conflagração (1964)

Raposas astutas e tímidas
Tomadas de fúria insane
Entram nos povoados
E atacam homens
E homens se convertem em feras!
E esquecendo a natureza humana
Atacam seus próprios irmãos!
Há fome e crime
Há oiro e abundância
Mas estão degenarados
Os valores Humanos!
Degenerados de tal forma que parece que vivemos em um caos!
Na ventania de paixões inflamadas
Os sentimentos ternos
São arrojados, como farrapos!
Ambições e vaidades ululam Lançando esta terra em conflagração!