Wednesday 28 September 2011

Manuel Ferreira - “É necessário reunir os intelectuais goeses.” (1954)

Quando partimos de Goa, começava a andar no ar uma ideia pela qual sempre nos debatemos aí, porque nunca deixamos de acreditar nas virtudes incontestáveis das suas possibilidades: um círculo da cultura ou qualquer coisa desta género. Atentas às dificuldades de aproximação entre os intelectuais goeses ou aqueles simplesmente dados aos problemas culturais, uma organização daquelas seria o ponto fulcral para esse desiderato.

Os intelectuais, os homens para quem a vida não é unicamente o futebol e o colóquio estéril da esquina do bar, precisam de estar ligados, já por espírito de conservação, já por necessidade de se poderem realizar totalmente no dia a dia das suas preocupações e melhores ambições.

Esta ligação, este contacto vital e inadiável, pode fazer-se por dois processos: ligação simplesmente espiritual, ligação directa.

Ligação simplesmente espiritual quando obtida através de revistas de colaboração própria em publicações literárias próprias. Ligação directa através de organismo ou organismos culturais, onde a presença directa, real é vínculo poderoso que, às vezes, leva a grandes iniciativas que é o laboratório dos estímulos sinceros e do braço generoso.

Ora não possuindo Goa uma revista literária, que fosse, a um tempo, repositório das fermentações intelectuais goeses e de ligação entre os mesmos, necessitam os artistas e os escritores dessa terra, mais do que em qualquer outra, de se reunirem à volta de uma associação independente sem tutelas nem capelinhas.

Aí, se trocariam impressões; aí, se debateriam problemas; aí, se agitariam a estética e a doutrina artística e literária; e, logo, essa associação, se transformaria em casa de cultura e um ponto de origem para o levantamento cultural de Goa.

Nada, neste momento, se nos afigura de tanta importância na vida intelectual dos goeses, para sua aproximação, para um contacto estreito, solidário e necessário, como a criação de um organismo que tendesse à reunião dos escritores, jornalistas, artistas e intelectuais.

Os indivíduos mais activos poderiam intentar na efectivação de qualquer coisa nesse género, pois encontrariam, de certo, e apesar da indiferença de muitos, bastantes elementos e considerável apoio para irem para a frente e lançarem as bases de um trabalho com largo futuro.

Que a ideia de um Círculo de Cultura não tenha morrido são os nosso desejos e daqui, de longe, e sempre perto, daremos entusiasticamente a nossa adesão, embora tenhamos a consciência de que ela não tenha interesse real ou possa pesar, a não ser por vir de quem apagadamente, mas sinceramente, procurou durante alguns anos, servir a cultura de Goa ou em Goa.

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