Thursday 25 August 2011

José Rangel - Para ti, bebe (1977)

Abriste os olhitos à luz
Do mundo, em sombras,
Ao morrer dum ano e ao nascer doutro.
Quando te visitei, dormias,
Tranquilo, boquinha fechada,
Enquanto a tua mãezinha,
Rosas no rosto, sorriso róseo,
Te velava.
Debrucei-me para ti:
Tinhas as mãozinhas em murro,
Como a prevenir os importunos:
Não me chateiam, deixem-me em paz...

É a voz do sangue
Que te fala:
Terás as meiguices da mãe,
As carícias do pai,
As bênçãos dos avós.
Levas no teu sangue
Nobres tradições
Da inteligência e do carácter.
Mas, o mundo é mundo,
Há nele de tudo:
Do mel que adoça,
Ao fel que amarga;
Maná e lama.
E ele não te deixará em paz...

Vejo-te homem:
Espancando as sombras,
Abrindo-te à luz...
Lembra, então:
É o sorriso meigo e doce da mãezinha,
É o olhar firme e sereno do paizinho,
Que te foi cadinho,
Em que te caldeaste
Às lutas da Vida.

Criança!
Para ti, e para teus pais, anelo
As bênçãos daquele outro Menino,
Que te antecedeu uns dias,
Para te mostrar caminho...

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