Thursday 25 August 2011

Augusto do Rosário Rodrigues - Jesus (1964)

Há dois mil anos, numa noite fria,
Vieste ao mundo, ó meigo visionário,
Idolatrado filho de Maria,
Para um dia morreres no Calvário.

Da Boa Nova audaz misionário
A verdade nos lábios teus sorria,
Defendias o fraco, o proletário.
O rico, tua morte só queria.

Hoje, o teu Credo é simplesmente um manto
A cobrir as mazelas e o pranto
Dos filhos do prazer, dos opulentos

Louvando sempre outrora a apre pobreza
Tua doutrina cheia de nobreza
Agora, é passatempo duns momentos...

Judit Beatriz de Sousa - Leva Tudo (1954)

O que deixaste é muito! Leva tudo.
Não fico, nem por isso, abandonada.
Não temas que te peça o que não dás.
Leva tudo, Amor, não quero nada!

Não me revolto – vês – nem endoideço.
E sei que com aquela que adoraste,
Agora, nem por sombras me pareço.
Leva tudo, que é muito que deixaste!
Levando tudo, eu fico mais sozinha
E, então, ao menos, hei-de achar que sou
A única mulher que foi rainha
De tudo o que me deste e me levaste!...


Mário Isaac's opinion:

Para concretizar o que afirmámos ao lado, inserimos hoje um poema inédito de um dos casos positivos, esplendidamente positivos da poesia goesa. Através de uma dúzia de versos e de um intervalo de silêncio, seguimos a poetisa, presos da sua arte e da sua confissão. E porque estamos, realmente, na presença de uma instituição poética, chegamos ao fim e apetece-nos voltar ao princípio, a saborear a tocante simplicidade de expressões – retrato de um sentimento analisado e definido. Que faltará a esta poesia, para que a possamos classificar entre o que de melhor temos lido? Apenas isto: a extensão do seu eco para além das origens individuais – para além do âmbito limitado por um acontecimento de carácter transitório e em absoluto desligado do mundo exterior.

É o tema, afinal, que está a colocar a poetisa fora das necessidades do dia que passa. Nem por isso, é evidente, “deixaremos de classificar como poesia, como boa poesia, as produções deste género que nos venham às mãos – o que entendemos é que a mesma não cumpre, perante as exigências do momento, como lhe competia.

Mais um pequeno esforço e teremos na autora da poesia que hoje publicamos, uma colaboradora valiosa na obra literária em Portugal. Afirmamo-lo, esperançados em que seja possível à poetisa realizar a “viragem” que pretendemos. E não esquecemos aqui os outros valores que poderão nascer duma melhor orientação de algumas reais esperanças que já apresentámos aos leitores

Mário Isaac - A poesia goesa e os goeses (1956)

Se, como alguém disse, a literatura é a expressão da época em que se vive, não será exagero considerar deslocados os que permanecem quietos no tempo e nos processos, transformando a arte em mero passatempo sugerido por satisfação própria e única, num divórcio das mais prementes imposições da realidade que atravessam e num desprezo por tudo o que é devido aos que esperam do romancista, do poeta, do pintor, do músico, a interpretação fiel e carinhosa, equilibrada e harmónica dos mais largos anseios e das últimas experiências do dia a dia.

Por ruas e praças do mundo o verdadeiro artista anda a seguir os movimentos das massas e procurar dar-lhes formas estéticas que fiquem a atestar as tendências do momento em que se localizaram e a ajudar a construir a resposta ou o prolongamento que seja passo decisivo para a luta das gentes.

Fixou-se assim, por relação do homem com o artista, um novo tipo de literatura (já que só desta vamos falar) a que têm chamado neo-realista. É uma literatura vigorosa, direita, rude por vezes como a vida o é quando calha, mas, em nosso entender, sempre honesta e ligada ao destino dos outros.

Há quem afirme que tal literatura se deixa fixar pelos caminhos da miséria, vendo a existência por um só ângulo – o mais deprimente. Não havendo más intenções na afirmação, há, pelo menos, a falta clara de percepção exacta do que seja neo-realismo. Este tanto pode sair do ambiente lúbrico e abafante de um lupanar como de um salão atapetado de aristocratas ou de um armazém cheiroso de comerciante feliz. Tudo vai de forma de procurar as causas de determinadas situações e de interpretar o verdadeiro sentido, o menos excepcional, das reacções em jogo. Tomando por ponto de apoio premissas que desde o princípio do mundo têm feito nascer conclusões verdadeiras, a moderna literatura coloca o Homem no centro das concepções que vai espalhando e à base delas ajuda a construir a época de que é espelho.

Falando de Portugal, nota-se uma plêiade de jovens perfeitamente integrados nas novas correntes, de quem há muito a esperar além do que já deram. Na Metrópole e no Ultramar vai uma autêntica revolução literária que nos tem elevado aos olhos do estrangeiro e interessado uma grande maioria dos leitores portugueses.

A poesia não podia ter ficado indiferente a este arejamento de processos e de intenções que se vêm verificando de há quase um quarto de século para cá. Os poetas compreenderam a missão que lhes estava marcada e seguiram o tempo em que vivem.

Aqui em Goa, entretanto, parece que ainda não percebemos do que vai à nossa volta e continuamos a estafar as horas e as possibilidades em interpretações de estados mais ou menos pessoais e mórbidos sem reflexos directos na colectividade e sem frescura de realismo que desperte o ambiente já de si mole e fatalista.

É tempo de acordarmos para alguma coisa de construtivo, é mais que tempo de começarmos a comunicar aos outros a mensagem que anda nos gestos de todos. O ponto estará em sabermos dar altura e sentido poético às vicissitudes que podem influir no esclarecimento dos problemas mais chegados à realização completa de cada um de nós.

Deixemos os sonhos esfumados e imprecisos que ficam no ambiente que criámos e se dele saem é para darem a nota de derrotismo a quem os entender (que bem poucos são). Finquemos os pés na terra e tiremos dela algum ensinamento que possamos cantar em estrofes e de ritmo adequado ao nosso entusiasmo. Poesia jovem, flutuante de vida e cheia de verdade, eis o que precisamos em Goa já que não faltam sensibilidades para transformarem em arte a visão de segundos.

E não venham dizer-nos que são necessárias expressões confusas ou versos estranhos para se criar a beleza que pedimos! Não, se a vida do poeta anda a bater as ruas, para que será necessário o malabrismo de palavras ou a contorsão da ideias? Acaso não se passa tudo à nossa vista, ao alcance da nossa inteligência – de encontro aos nossos nervos? Para quê, então, emaranhar o que por si é livre, tornar difícil o que ninguém ignora, fazer nebuloso o que nunca se apresentou em nuvem? Não, só temos que filtrar na pureza das nossas convicções o elemento que gera o poema e distribuir o nosso potencial artístico pela interpretação do silêncio que ficou nos lábios dos outros. Será o ponto de partida para o edifício que pretendemos construir. E isso é poesia – dizer que os outros sentiram e não souberam exprimir. Mas dizê-lo com beleza simples de quem é capaz de acordar uma criança ou conduzir um velho.

Cremos que há entre nós jovens com alma para encaminharem seguramente os seus passos pela senda de que estamos a tratar. Cremos que alguns poderão mesmo ir longe se resolverem abdicar, definitivamente, das leis geométricas por que se têm regulado. Mas nós cremos não chega, evidentemente, para que haja poesia viva em Goa!...

José Rangel - Para ti, bebe (1977)

Abriste os olhitos à luz
Do mundo, em sombras,
Ao morrer dum ano e ao nascer doutro.
Quando te visitei, dormias,
Tranquilo, boquinha fechada,
Enquanto a tua mãezinha,
Rosas no rosto, sorriso róseo,
Te velava.
Debrucei-me para ti:
Tinhas as mãozinhas em murro,
Como a prevenir os importunos:
Não me chateiam, deixem-me em paz...

É a voz do sangue
Que te fala:
Terás as meiguices da mãe,
As carícias do pai,
As bênçãos dos avós.
Levas no teu sangue
Nobres tradições
Da inteligência e do carácter.
Mas, o mundo é mundo,
Há nele de tudo:
Do mel que adoça,
Ao fel que amarga;
Maná e lama.
E ele não te deixará em paz...

Vejo-te homem:
Espancando as sombras,
Abrindo-te à luz...
Lembra, então:
É o sorriso meigo e doce da mãezinha,
É o olhar firme e sereno do paizinho,
Que te foi cadinho,
Em que te caldeaste
Às lutas da Vida.

Criança!
Para ti, e para teus pais, anelo
As bênçãos daquele outro Menino,
Que te antecedeu uns dias,
Para te mostrar caminho...

Bicaji Ganecar - Pôr-do-sol (1970)

Vai o sol
E vem o luar
Cantam as ondas
Do alto mar
Em som uníssono
E sem par

O gado volta
P’ra o lar
E o pastor
A relaxar
Após a jornada
Por completar

As gralhas
Sobre o arvoredo
Cantam em coro
O seu segredo
Livrando-as de
Todo o medo

A criancinha
A chorar
P’ra um conto
De sonhar
Após um sono
De tanto pensar

A folha verde
Deixa a função
Clorofilina
E entra em acção
A respiração
Na escuridão.

Acabou-se
Mais um dia
P’ra começar
A noite fria
E os dois corações
Aspiram p’ra companhia.

Tuesday 23 August 2011

Laxmanrao Sardessai - Alforreca (1965)

Sou teu amigo e irmão
Desculpa-me, pois, se sou franco.
Sei que a franqueza
Não paga neste mundo.
Mas, que queres amigo?
Sou o que sou
A minha profissão
Não é de adulado!
Agora ouve:
A tua bondade – dizem –
É tradicional e histórica!
E não sei que mais!
Quem diz isto
Ganha a tua estima
E, às vezes, grossa fatia!
Mas eu digo o inverso.
Bondade tens....
Mas bondade perigosa.
Para ti, e para tua terra!
Bondade que treme
Perante os fortes e poderosos.
A bondade que não sabe
Ser firme e afirmar-se,
Em face de maiores intempéries,
Bondade que exerce, o papel dúbio e indigno
E não condena a maldade,
Que não se recolhe
Perante a verdade severa, bondade que é o traço
De todos os fracos
Amigo, goês, se a tens
E dela te vanglorias,
És para mim
Como uma alforreca
Que é mole e bonita, sim,
Mas extremamente repelente!

RV Pandit - A Minha Mente Quadrada (1968)

O grão de sal
Derrete ao contacto
Da humidade

Ao contacto do Sol
Torna-se quadrado
Outra vez…

Não, Redondo, não liso
Mas perfeitamente quadrado.

Quando dissolve
Perde a forma
Dá sabor ao líquido
Onde dissolve

Quando sai
É outra vez quadrado
Assim é a minha mente.

Laxmanrao Sardessai - Sofrimento (1965)

Eu escrevo, porque sofro
E no sofrimento cresço.
Tenho sofrido pouco
Mas tenho feito meus
Os sofrimentos alheios.

Estou grato a todos eles,
Porque são meus escultores
E deram-me a luz,
A visão e a força
A tolerância e o fogo,
A revolta e a calma
Enfim, tudo o que sou.

A nada aspiro
Porque sorvo da humanidade
A seiva criadora
Como a árvore da terra
E dou frutos e flores
Que deleitam os outros.
Assim sou o mais felizardo de todos!

Monday 22 August 2011

Editorial - 19 de Dezembro (1978)

17 anos decorreram desde que o Exército Indiano, sem encontrar a anunciada resistência até morder o pó, pôs termo em Goa, Damão e Diu ao regime colonial português, sob o qual a sua população viveu por espaço de quase meio milénio.

Com o facto irreversível da integração, na União Indiana, do que era designado por Estado da Índia, baqueou a extravagante fórmula constitucional adrede adoptada como apta para salvar os territórios de além-mar de um irredentismo que se dizia suicida, em desafio ao seu incontestável direito à autodeterminação. Sob este aspecto, a libertação de Goa, Damão e Diu teria sido precursora da revolução portuguesa que acabou com o fascismo que asfixiava a vida portuguesa e possibilitou a independência das demais colónias. Afigura-se que a queda de Goa colocou o mundo português perante a realidade de que o falado império ultramarino, tal como concebia o velho ditador, era um mito, não passava de uma ficção absolutamente destoante dos tempos actuais.

A verdade é que se fosse o contrário, se fosse o Portugal metropolitano a sacudir primeiramente a canga fascista, as coisas para nós se teriam passado de outra forma: a descolonização não teria deixado de se processar diferentemente; o o nosso destino não serviria de joguete a estadistas que vão surgindo no tablado nacional, com descaso das promessas feitas no momento crucial.

Ainda hoje continuamos na condição de cidadãos de um território de União. Não se materializa o nosso anseio de estatutos de plenos poderes. Não se outorga reconhecimento à nossa língua materna. Não se favorece o nosso modo de vida nem a cultura e a língua portuguesa enraizadas neste território.

Muito pelo contrário, modificou-se radicalmente o sistema administrativo, introduzindo leis, instituições e práticas burocráticas, algumas delas retrógradas, obsoletas. Na parte omissa pelo menos houvesse o bom senso de considerar em vigor tanta legislação que nos veio do passado, em grande parte promulgada localmente com a intervenção dos filhos da terra, mas nem por isso se fez como regra, talvez por uma questão de patriotismo que não se põe no caso desses diplomas de lei e normas processuais do tipo colonial, remontando porventura, inclusivamente, à época vitoriana. E, para cúmulo, não faltaram medidas do governo local, lesivas do interesse de uma parte dos habitantes, que ficam privados de seus escassos bens ancestrais, sem a justa indemnização.

Neste momento, paira sobre Goa o espectro da proibição, com todos os malefícios inerentes à destruição de uma actividade secularmente exercida por um sector da população, como fabricantes e intermediários, a par de privação que representa para as classes médias, que os ricos terão o que há de melhor, custa o que custar, e os pobres não terão outro remédio senão afogar as mágoas nos espíritos espúrios, tornando-se bocas a menos, face às carências alimentares. E afinal tudo isso não passaria de pirronice de quem se esquece de que a virtude está no meio. A menos que, por detrás do problema que se cria, ande a manobrar essa fauna de contrabandistas e seus aliados na expectativa de negócio chorudo, com as inevitáveis comparticipações.

Sem embargo dos ressentimentos recalcados durante este período todo, pelas discriminações e imposições que se fazem, o goês não pode deixar de reconhecer que a libertação abriu horizontes mais amplos, enveredando esta terra pelo caminho do progresso. É o ensino que se está a difundir até alcançar todas as camadas, graças à sua feição democrática e ao número de estabelecimentos abertos muito embora haja vários aspectos assumindo orientação pouco aceitável. É a electrificação do território que se transformou em realidade, à parte os fiascos e limitações que atenuam a importância do melhoramento. É a urbanização que conquistou novos espaços, com construções modernas, perdendo embora as cidades em asseio e higiene. São as instalações industriais que despontam por toda a parte, num esforço desenvolvimental digno de apreço.

Mas, para alem de tudo quanto seja lícito dizer num sentido ou noutro, está a Democracia, com todos os seus princípios e instituições consagrados na Constituição da Nação, e este é um bem inestimável que todo o Goês que se preza recebeu com alacridade, após a longa caminhada através do árido deserto político que foi a ditadura salazarista.

Cyrano Valles - A Vida (1966)

A vida
É frágil flor
Que vive de amor
E more de dor.

A vida
É uma dança
De títeres,
Movidos por invisível mão.

A vida
É uma curta romaria
De peregrinos
Que vêm e vão
Com um sorriso nos lábios
E morte no coração.

A vida
É ser e não ser,
Gozar e sofrer –
É isto e mais aquilo,
Estranha chama
Misto de sonho e lama.

Khanta Kharma Kabha - Para os oposicionistas de Vassalo e Silva ou Camões (1980)

Os que opõem ao Camões ou Vassalo e Silva
Só por não serem indianos, mas portugueses
Saibam que eles só merecem um VIVA!
Por serem amigos de Goa e dos Goeses.

Foi Vassalo quem salvou a nossa Goa
Das ordens da sua destruição
E quando regressou a Lisboa
Sofreu a sua condenação.

Não é verdadeiro nacionalista
Quem não o souber admitir e homenagear
E na sua estreiteza de vista
Não lhe reconhecer como “political-sufferer”.

Camões, Shakespeare ou Tagore
Qualquer deles é indiano e universal
Não há lugar, portanto, para o rancor
Contra Camões por ser de Portugal.

Xossicanta Dolvi - “A presença de espírito” (1956)

Era uma vez um barbeiro ambulante que terminado o seu serviço numa aldeia distante, voltava para sua casa.

Era tarde e o sol já cansado da sua viagem diurna, recolhia os seus derradeiros raios, já amortecidos de brilho e calor. A noite aproximava-se a passos acelerados.

Como o caminho passava pela floresta, o barbeiro estava a andar com passo estugado para sair daquele emaranhado bosque, cheio de feras e serpentes venenosas, quando de repente, encontrou-se com um tigre, com intenções de o atacar.

Embora fosse medroso, o barbeiro era dotado de presença de espírito e vendo-se diante dum perigo tão iminente, apesar de assustado, pensou:

- Estou perdido, pois o tigre, certamente, não deixa de me atacar. Como devo proceder agora para sair ileso.

Estando nesta conjectura, ocorreu-lhe uma ideia magnífica, que logo resolveu pôr em prática para se livrar do risco que corria.

Cobrindo-se, em segundos, de falsa coragem, apresentou ao tigre o saco de viagem, e exclamou:

- Apanhei-te bem, cão chaguento! Há muito que te procurava e quero ver agora como é que te livras agora das minhas mãos, pois vou meter-te no saco, como ao outro que tenho aqui.

O tigre furioso pela ofensa que lhe era dirigida chamando-lhe cão chaguento, correu contra o homem o qual, porém, cônscio do perigo, tirou imediatamente da sua sacola e colocou-o diante do tigre.

O tigre vendo a sua própria imagem no espelho julgou que era verdade o que o barbeiro acabava de dizer e que tinha um tigre no seu saco. Para escapar da sua possível captura, fugiu do local e desapareceu, num triz, naquele serrado.

O barbeiro, já livre daquele animal feroz, prosseguiu o seu caminho.

Passado pouco tempo, o sol finou-se no ocaso e a noite começou a reinar naquela vasta solidão, como o seu apaniguado – a escuridão.

Impossibilitado de continuar a marcha, o barbeiro pensou pernoitar debaixo duma árvore de gralha que havia naquela floresta.

Tirou o bornal, acabou a sua refeição e quando estava prestes a estender-se no chão para dormir, ouviu o bramido das feras, que se aproximavam da árvore, à cuja sombra estava alojado.

O rugir que acabava de escutar deixou-o acometido dum terror e para se não expor novamente ao mesmo risco, trepou imediatamente aquela árvore, escondendo-se sob a densa folhagem, com a vista e os ouvidos concentrados no chão.

Passando pouco tempo, apareceu debaixo daquela árvore, com uma presa refastelar, uma malta de feras entre as quais se encontrava também o tigre já referido, o qual durante o festim contou aos seus companheiros o incidente ocorrido, acrescentando que nunca na sua vida viu um homem tão perigoso que se atrevesse a ofender chamando-lhe cão chaguento e ameaçando-o de que teria a mesma sorte como o outro tigre que levava no saco.

Os companheiros, porém não acreditaram no que ele contava e começaram a chalaceá-lo, taxando-o de mentiroso e bazofiando de que caso tivessem encontrado esse homem o reduziriam a pedaços.

O barbeiro que presenciava a cena, que se desenrolava abaixo, ficou tão assustado que começou a

(segue na quinta página)

tremer como varas verdes, mexendo-se também, em sua consequência, o ramo em que estava sentado.

Sobre o mesmo ramo e sem ser notado estava também dormindo uma cria do macaco que pela acção de mexer do ramo acordou estremunhada e não podendo suster-se pelo balouço, caiu para baixo, onde os tigres estava entretidos no refastelamento, da caça.

Como o barbeiro que, como acima se disse, era astuto com suficiente presença de espírito, resolveu tirar partido dessa ocorrência para meter medo àqueles animais, quando o macaquito estava a cair, exclamou:

- Olhe! Agarre aquele tigre que se me escapou há bocado. Vamos capturar este e ainda todos que lá se encontram para meter na nossa gaiola.

O tigre vendo inesperadamente cair do cimo da árvore, que julgou ser o emissário do homem perigoso, teve muito medo e fugiu gritando:

- Fujam, amigos. O homem perigoso, de que falei, está em cima e certamente vai agarrar-nos para engaiolar.

E todos aqueles tigres ficaram tão atrapalhados e atrasados de tal pânico que se puseram imediatamente a fugir para nunca mais voltar, deixando o local vazio e sem sinal algum.

O barbeiro desceu, em seguida, tranquilamente, da árvore e, depois de um sono profundo e reparador seguiu, no dia seguinte, o caminho de sua casa, onde chegou são e salvo.




Translated from the Marathi

Constâncio Fernandes - O Noivado da Amélia (1974)

Divertindo-se a vida com entusiasmo
Colhendo flores no teu jardim!
No lar alegre a mãe ajudando e sem mesmo
P’ra o trabalho oficial por cansada se dando

Esse fora o teu lema visto com ânimo
P’ra cumprir a missão cá neste mundo
Jovial alegria, sem mancha, era um pasmo
Porque ela se transbordava do teu fundo.

Enfim!... abre se a porta e mui suavemente
Garras aduncaste ceifam, cruelmente
E logo o vital sopro se muda em Morte!

Já tens agora novo lar de noivado
P’ra com a Eternidade enfim consumado
... Eis foi cá, inesperada, a tua triste sorte!

Juliana Cordeiro e Monteiro - Desperta, é hora (1962)

Adormecida há séculos
Sem vontade, sem cor,
Minha alma cambaleia
Estremunhada do seu torpor –
Liberdade! Liberdade!
Tendo sonho… só para sonhar!
Um bem a que se aspira
E não se sabe como usar.
Neste orbe em que a Força
Manda no Direito,
Que razão há?
Que lhe faça jeito?
Para quê a minha voz?
Ah! O Destino é feroz...
Pois, se não souberes lutar
De lá ou de cá,
Canga sempre hás-de levar!

Friday 19 August 2011

Augusto do Rosário Rodrigues - O Resurgir duma Nação (15 de Agosto).

Mil novecentos quarenta e sete – eis uma data
Desde a qual a nação frue liberdade lata.
Vertido um mar de sangue, o inglês, finalmente,
Promete deixar a Índia em paz, de boa mente...

Foi em Catorze de Agosto. Um dia a mais raiava.
Batera a meia noite. A Índia trepidava...
Sonhos de glória e raiva! Euforia! Tristeza!
Um povo que traçou páginas de beleza
Vibrava em alto grau, tanto no Parlamento
Como fora, nas ruas, à luz do firmamento.
E um homem austero, a passo mesurado,
Caminhou então hirto e solene ao estrado,
Era o audaz Nehru, o primeiro-ministro!

Acabara o terror, o regime sinistro...
Uma Índia, agora livre, ia ter, finalmente,
Um governo só seu, feito com sua gente,
Cumprido o protocolo a aposta a chancela,
Um dilúvio de luz, visão de Cinderela,
Inunda a capital. As ruas, esquinas
Eram grandes florões de cores peregrinas.
Archotes, lampiões, como em dias de festa,
Brilhavam no solar ou na casa modesta.
Bandeiras e festões, mil ramos de verdura;
Charangas a tocar; fogos, manjares, fartura!
Homens ao desafio choravam a cantar,
E, em louco frenesi, dançavam a gritar.

E, entretanto, Nehru, numa voz muito calma,
Entrava a declamar, com toda a sua alma,
Sua fala à Nação – mensagem bem sentida,
O eco passional duma alma dolorida,
Duma alma de eleição, de herói e de santo,
Que teve a sua cruz – pois sofreu tanto!
Um sulco de agra dor riscava-lhe a fronte.
Como num sonho mau, ele já via defronte
Questões de águas de rios, questões de caminhos,
A intriga de Jinnah, o receio dos vizinhos...
Uma Índia bipartida, ele já visionava
Um mal fatal, que de longe espreitava...
Tudo isto e muito mais, nessa data bendita
Passou, qual raio veloz, na mente do Pandita
Que cimentou com sangue, e inteligência
O último grau da nossa Independência

Mariano Saldanha - Contos Goeses em Marata (1962)

A Índia, país de lendas, cultivou desde a mais remota antiguidade, o género romântico com a feição extraordinariamente mitológica; e a sua literatura oferece abundante produção de epopeias, dramas, kadambaris e puranas, que alimentavam e ainda alimentam a imaginação popular, ávida do extraordinário e mesmo do inverosímil.

Com o advento da cultura inglesa, os “B.A.s” das novas universidades introduziram, especialmente os parses e os babus, um novo género: o romance pequeno em prosa, à maneira europeia, despido de mitologia; mas o princípio a imitação era lamentavelmente servil e monótono: o mesmo namoro e as mesmas descrições de paisagens (sinaris – scenery). Umas das cenas predilectas era a beleza da tarde (sayamkalchi vêll) como o seu pôr-do-sol ou nascer da lua. A heroína devia estar com um livro na mão, sentada num dos bancos de Choupati, a cabeça apoiada noutra mão, absorta a contemplar o mar ou o Malabar Point, e assim por aí além, e tudo temperado com as indispensáveis citas de Chaucer, Shakespeare, Wordsworth. Mal iria, porém, às letras, se algum literato de mérito, correspondendo à nova vaga de renascença nacional, não tivesse dado os idiomas pátrios com produções de real valor, como Binkim Chandra Chatterji e Hari Naravan Apté que, se tivessem escrito em inglês, teriam talvez conquistado um nome entre os maiores romancistas.

A nossa Goa, não tendo tido quem a romantizasse em língua indiana, não figura nem como sujeito nem como objecto em semelhante literatura, com a feliz excepção dos poucos romances em concani, limitados à sociedade cristã. Os contos e tradições locais, que porventura nos tivesse legado a antiguidade, não encontraram quem os perpetuasse em letra e lá, se perderam, com as nossas avós, lendas curiosas, de grande interesse folclórico, com a do Codmá Razá (rei cadamba de Goa) cuja formosa noiva, satam sam’dirambhaili cumvor (talvez princesa de Ceilão ou das Maldivas) viera a Goa Velha, não em qualquer prosaico transporte, nem mesmo no épico aeroplano do monstro ceilonense Ravana, mas numa idílica e mimosa concha de madrepérola, transportada sobre as ondas pelas encantadoras ninfas de Varuna, o senhor dos mares, as mesmas ninfas que ajudaram a Rama para recuperar a sua Sitá. Ao desembarque, foi oferecida à princesa, para deixar o primeiro pé nas terras do seu real consorte, uma tábua do melhor sândalo de Maissor, incrustada de diamantes de Golconda e enviada pelos parentes dos cadambas; e o puroito palaciano deu-lhes as boas-vindas, saudadando-a com um punhado de arroz azgó de Goa Velha e um mhomvó nal de Cortalim.

(Continua na 3a pagina)

A população cristã, para não ficar atrás da hindu, também dava largas à sua imaginação e tonificava as suas crenças criando lendas especiais, que eram bem aceites e até acrescentadas pelos hindus. Assim, por exemplo, contava-se que a freguesia de Ucassaim, tendo dedicado a igreja ao culto da rainha lusitana Santa Isabel, não obtinha como desejava, uma imagem do seu orago talhada em madeira de Portugal; mas a santa rainha, que já em vida convertera ouro em rosas não tardou em acudir aos seus longínquos devotos e, transformando uma pedra preta em bóia, mandou sobre ela, pelo rio fronteiro à igreja, a sua estátua, que foi recolhida no templo e a pedra lá esteve, durante séculos na margem do rio, a atestar a dádiva celestial. Era nesta pedra que desembarcava a Milagri-Saibinn, de Mapuçá, quando, na noute de sua fama, se dirigia pelo rio abaixo a convidar para a sua festa as suas seis irmãs, veneradas em outras tantas igrejas ao longo do mesmo rio, desde Ucassaim até à Penha de Franca. Para os hindus, aquela Saibinn era uma convertida, que naquela ocasião ia convidar para a sua festa as suas 6 irmãs, Laharai, Mahamai e outras, que dantes tinham os seus pagodes em Bardez, precisamente como a Senhora do Monte de Bandorá, procede, segundo a crença dos collis, para com as suas irmãs hindus, também seis, Mumbá-Devi, Kalká-Devi e outras. Que belo exemplo de tolerância e camaradagem religiosa.

Hoje, com a maquina de imaginação empurrada pelas engrenagens da vida material, nem há quem conceba dessas simpáticas lendas, nem quem nelas acrediate, e até a pedra da minha freguesia, vendo dispensado o seu mudo testemunho, sumiu-se para parte incerta.






A falta de contos goeses em marata foi agora suprida por um moço escritor hindu, de Goa, o sr. V.S. Sukhtankar, que, sob o título de Sahyadrichya Paythyaxim (i.é. No Sopé dos Gates) acaba de publicar uma coleção cuja acção se desenvolve em Goa. Sendo o autor educado em Bombaim, os seus cantos são escritos em bom marata e talhados em carácter regional, oferecendo grande interesse ao leitor por retratarem com toda a naturalidade e graça e sem preconceitos de castas ou crenças certas cenas de província, tão nossas conhecidos. Os assuntos, completamente estranhos ao eterno tema do amor, relacionam-se com os factos da vida actual ou da história e tradições do pais, com referência às questões sociais do nosso meio local, o que talvez seja um campo pouco pisado em literatura marata, pelo menos em relação à Goa.

A história, triste história da bailadeira Zaí, narrada no primeiro conto, Zaí-Zaí tem um grande alcance social, hoje que em toda a Índia, incluindo Goa, se procura eliminar o lado imoral desta profissão, aliás digna de apreço pela sua cultura musical e coreográfica. A infeliz menina, iluminada pelo raio de pureza revolta-se contra o estigma hereditário que quer obrigá-la a manchar a honra na ignominia e afinal sucumbe pela ambiciosa imposição dos maiores e pelo dever da casta!

O Mahapurachi Xikavan é na verdade, uma lição tanto para os cristãos como para os hindus, especialmente para os jovens hindus modernos, que importam da Índia vizinha as ideias, que aliás não tinham, de antagonismo religioso ali geradas pela eterna rivalidade hindu-maometana. O balcão de Santú-Xenoi era o ponto de reunião diária dos vizinhos de ambas as crenças e um dos frequentadores assíduos era Paulu-de-Sá, cuja amizade pelo Santú irmão é típica das boas relações que nas nossas aldeias ligam às vezes os vizinhos hindus e cristãos. As senhoras das duas famílias se auxiliavam mutuamente com os seus préstimos; se uma era perita de lon’chins e papddés a outra tinha bom hat-gunn para as doenças e boa provisão de hervas para os coddés foramentans, xeddés, etc. A família de Paulú compartilhava com a de Santú as goiavas, atas, papaias da sua horta, que este retribuía, pelas suas festividades, com rós, neuryôs, laddús, e mais delicacies da culinária hindu.

Mas um dia surge na aldeia, como um Yama’duta, um neto de Santu-Xenoi, o jovem Sonú, que, com a mioleira enfatuada pela Mumboichi suki boddai, arvora-se em defensor do hinduísmo e da dignidade dos hindus e, com as suas arengas subversivas, levanta, na pacata aldeia do partido pró hindu, semeando desunião entre as duas religiões; divide-se a população em dois partidos: o hindu e o cristão, rompem-se as relações extingue-se o trato e os dois vizinhos vêem a sua amizade, datada de gerações e robustecida pela mútua dedicação e confiança, substituída por uma espessa barreira de antagonismos, de ódios e vinganças. Em casa de Santua, Xri Gonês já não via o seu altar profanado pelas impuras papaias do kiristão Paulú, nem este saboreava os neuryos e mais pitéus da concni Aji-bai. Em compensação havia farto obséquio de insultos, ameaças e espancamentos. Até os animais se alistaram nos partidos. Os porcos e galinhas de Paulú, tornavam bhoxtt o quintal de Santú, cujas vacas, por seu turno, devastavam as bananeiras daquele. Os ossos e mais resíduos alimentares do cristãos encontravam-se à porta dos hindus, e os patravallyôs desses acumulavam-se à porta daqueles; até que esgotada de ambos os lados a paciência, Santu levantou um processo contra o seu ex-amigo. E tudo por causa do fogoso Sonu e do seu terrível adversário Paulugueló Santan.

O processo naturalmente estava destinado a largo e longos anos de vida, nadando com a velocidade de cágado – própria para agravar e protelar as animosidades – numa inundação de requerimentos, selos, preparos, intimações, prazos, inquirições, depoimentos, contestações, recursos, agravos, apelações, minutas e mais terminologia do bem provido léxico judiciário. Entretanto a natureza lembrou-se de um expediente bem eficaz. “A amizade dos mahatmas – diz uma sentença sânscrita – dura toda a vida; a sua inimizade é apenas um episódio temporário e sua liberdade é desinteressada”. E assim se provou. Uma inundação perigosa e prolongada, ameaçando destruir a casa de Santú e deixando sem pão a família de Paulu, fez submergir os ódios e mais o processo e provocou a reconciliação, inspirada pelo delicado coração das respectivas mulheres, ansiosas por mutuamente acudirem ao vizinho na sua adversidade. E o velho Santú, entre agradecido e arrependido, pergunta:

“É sempre bom observar-se o dever da amizade entre os vizinhos, não é assim, Paulú?”

“É verdade, irmão. Também o nosso Jesus disse: Ama o teu irmão como a ti mesmo”.


E os dois tornam a amar-se como a si mesmo, retomando a aldeia, a sua paz e harmonia. E o mal agourado Sonú favoreceu a todos com a sua ausência, para pôr termo a este episódio temporário, que ia prejudicando a amizade dos dois mahatmas aldeanos.





Alguns destes contos têm um fundo histórico ou tradicional, como o Varanda (Voronddó) que diz respeito ao assassínio de Rauji Ranes e a consequente vingança. O Tamrapat (Tambed-pottó) expõe os poucos conhecidos sofrimentos do povo, a quem uma simples questão sobre uma Alagoa basta para agravar a miséria. Em Katu Kartavga temos uma tradição dos tempos do imperador Axoha relativa a uma hostilidade já narrada em outro livro, entre os gaocares de Loutolim e os de Curtorim e terminada também pela intervenção duma adversidade que afectou a Loutolim, invadida por umas tribos selváticas de além Gates e espontaneamente socorrida pelos vizinhos de Curtorim, esquecidos nos antigos ressentimentos. Há mais contos que não posso estar a particularizar.

O livro é prefaciado em inglês por Mrs Kamaladevi Chattrophyaya e traz no fim um vocabulário das palavras goesas empregadas no texto. A próposito, não posso deixar de fazer um comento: O autor é de Goa, os personagens são de Goa e em Goa se passa a acção dos contos, que têm por fim pintar a “life and colour” daquele “beautiful land”, que é Goa. É, contudo, nos diálogos e descrições, onde, aliás, figuram, além do marata, o português, o inglês e ainda o latim, só é banido sem contemplações o idioma goês. Até os personagens cristãos e analfabetos falam tudo menos o concani, para se embrenharem marata, que aliás nem em sonho falaram. É verdade que a sua linguagem nem sempre é a literária de Puném; mas aquela construção mulheril, com a nasalação das terminações neutras, não é nenhuma particularidade de Goa, é de todo o Maharastra, cujos dramas e romances uniformemente o imitam. Perdeu-se portanto a oportunidade de revelar aos leitores maratas o idioma e expressão particulares de Goa, que aumentariam o encanto dando uma atmosfera caracteristicamente goesa e portanto “a vida e o colorido” linguístico do país. Não digo que toda a dialogação devesse ser em concanim; mas bem podia intercalar-se uma ou outra frase expressiva e típica, como se fez com a fala portuguesa do Padre Cabral, do delegado e outros. E, mesmo sem um diálogo inteiro, o do cumbi Kamnu, por exemplo, fosse em concani, que havia nisto de estranhável. Os maratas, que o compreendessem, se quisessem, na mesma medida em que os hindus de Goa se prontificam a compreendê-los a eles, tanto mais que o livro é acompanhado de um vocabulário explicativo.

Das palavras goesas, algumas estão desfiguradas com o aspecto marata ou sanscrítico. Assim, chardó, vocábulo dos cristãos, maratizado em chardá, terminação contrária ao génio do concani. Os nomes topográficos Agxi, Keloxi, Kut’tal, Lottli etc. são escritos na sua suposta forma sanscrítica Aghanaxini, Kardali, Kuxastali, Loxtavali. Dir-se-á talvez que essa sanscritização se justifica pelo facto de o respectivo conto se referir aos tempos do imperador Axoca. Mas o próprio Axoca empregou nas suas descrições, três séculos antes de Cristo, os nomes geográficos na sua forma prática ou popular e não sanscrítica, que era escusado agora desenterrar em uns contos modernos, que não são em sânscrito.

À parte esta nota, o livro é interessante e apresenta-se bem: papel bom, impressão nítida, revisão cuidada, ilustração e encadernação artísticas, bem feita, cousas não vulgares em publicações vernaculares da Índia.

Visnum Porobo Sincró - Não Sei (1962)

Não sei classificar o que sinto
Neste momento em que tudo ri
O luar é doce, doce também
É a melodia que eu ouço
Através da tua janela semi-cerrada,
A lua sobe ainda em meio no céu
E eu não consigo dormir ainda
A cabeça anda em vira-voltas
Uma espécie de náusea de tudo
Sinto uma melancolia ardente
Insipidez aguda, aborrecimento
De tudo o que antes gostavam
O que será meu Deus? Não sei
Classificar este estado de alma