Thursday 16 June 2011

Evágrio Jorge - Xacuntalá (1965)

Xacuntalá é filha de um Rixi e de uma Apsará. Mestre Cannvá, encontrando-a abandonada numa floresta logo que nascida, recolhe-a no Eremitério e toma-a para sua filha adoptiva. E aí ela cresce junto de duas companheiras da mesma idade, de quem se torna muito amiga: Anassuiá e Priamvadá. Caçadores infestam o bosque do Eremitério e matam uma gazela que amamentava um filho. Xacuntalá encontra o pequenino animal, órfão de mãe, e cria-a enternecidamente, como faria e um filho. De uma vez, em que as três amigas regavam as flores que Xacuntalá ama como se fossem irmãs, Anassuiá prediz-lhe que ela encontrará uma dia um homem poderoso que o fará muito feliz, mas o seu horóscopo reza que um infortúnio pesa no seu destino. Mestre Cannvá, o pai adoptivo de Xacuntalá, vai em peregrinação aos mais afamados templos impetrando os deuses para que esconjurem aquele mau signo. O Rei Dushianta anda a caça, perto do Eremitério. Quando apontava a flecha à pequenina gazela, é surpreendida pelo sacerdote do Eremitério que o exorta a não matar o dócil animal. O Rei cede aos rogos do sacerdote, e este augura-lhe que será um dia, ele ou um filho seu, um Monarca Universal. Encantado com a formosura de Xacuntalá, o Rei resolve não sair do Eremitério. O Rei está maravilhado. As três amigas oferecem-lhe frutas e flores, bailam para seu recreio. Xacuntalá, sente que, no seu coração virginal, desperta, pela primeira vez, uma emoção desconhecida. Priamvadá revela-lhe que ela está apaixonada pelo Rei e diz-lhe que a forma de saber se o Rei está também apaixonado por ela é fazer um estrofe. Xacuntalá escreve, com a ponta da unha, numa folha de lótus, a seguinte poesia, que Priamvadá dependura duma árvore:

“Não Sei
Que sente o teu coração
O meu
Ficou preso a ti
Da mesma maneira

Que aliança ao lodão
A Vanadassini
A Mangueira
Desde a hora
Em que te vi”

O Rei lê a poesia e declara que está apaixonado por Xacuntalá. Para penhor da sua constância, dá-lhe o seu anel que é um talismã e tem o poder mágico.

O rei casou com Xacuntalá segundo o rito védico, para o qual nada mais era preciso que a vontade mútua dos nubentes. Xacuntalá é feliz. As suas companheiras participam da sua ventura. Decorrem suaves as horas no Eremitério. Ao despontar do sol, rezam à Súria a oração da manhã. O rei pinta o retrato de Xacuntalá. Um mensageiro, porém, da Corte, vem, inesperadamente, chamar o Rei da parte da sua mãe para celebrar o jejum em comemoração dos antepassados. O rei hesita ente as solicitações imperiosas do seu coração e o cumprimento do dever sagrado com os antepassados. O rei parte para a corte. Xacuntalá sofre rudemente com este afastamento. Entretanto Durvassa, um Rixi, austero, de ânimo duro, vingativo e colérico, visita o Eremitério. Xacuntalá é abismada na sua mágoa, não cumpre os deveres de hospitalidade com Durvassa. O severo Rixi, irritado por esta falta de atenção, lança uma maldição sobre Xacuntalá.

Vai passando o tempo. E o Rei, que prometeu dar notícias suas dentro de três dias, não voltou nem recado manda. Xacuntalá julga-se abandonada e fina-se de sanidade. Vestiu-se de luto. Sente-se morrer... Impetra Suriá a que não abandone nesse transe aflitivo. As amigas consultam um Vidente e este revela que Xacuntalá concebeu do Rei um filho que trará um estigma de soberania. Ele será um Monarca Universal. Mestre Cannvá não tardará a regressar do Eremitério. As duas companheiras e Gautami, a superiora do Eremitério, vivem numa dolorosa ansiedade, na perspectiva de que Mestre Cannvá se irritará com o sucedido. Gautami anda rabugenta, mal-humorada, e imputa, injustamente, às duas amigas de Xacuntalá que viria a ser um dia uma Rainha. Mas quando lhe revelam que o Rei não voltou há quatro luas, sente-se contrariado. Recorda-se, então, que um infortúnio haveria que ser sofrido por Xacuntalá. Priamvadá informa-o de que Durvassa veio ao Eremitério e que Xacuntalá, preocupada com a partida do Rei para a corte, não cumpriu os deveres de hospitalidade com o rigoroso asceta. Cannvá reconhece que era esse o infortúnio que pesava sobre o destino de Xacuntalá. E a hora solene de sacrificar o Fogo. Procedem, no altar ao rito sagrado. O Sacerdote impetra Agni para que esconjure o malefício de Durvassa e resgate Xacuntalá de maldição. Cannvá tira um bom pronuncio da forma como corre a cerimónia e resolve ir à corte entregar Xacuntalá ao Rei. Xacuntalá despede-se comovidamente do Eremitério. Partem todos para o Palácio. Mas, no caminho, o Xacuntalá perde o anel que o Rei lhe deu.

O Rei não reconhece Xacuntalá. Esquece por completo dos dias passados com ela. Como um riternello fatídico, ouve-se, de vez em quando, a Canção da Abelha

“Abelha, abelha
Como és volúvel!
Depressa esqueces
A pobre flor
Que te deu o mel
Do seu amor

Abelha, abelha
Como és volúvel
Como o amor.”

Porém, um dia chega à Corte um pescador com o anel perdido, que ele achara no ventre dum peixe. Volta a memória do Rei do tempo passado no Eremitério em companhia da meiga Xacuntalá. O Rei manda chamá-la à sua presença e pede-lhe mil desculpas pela perda da memória e aceita-a como Rainha, no meio de estrondosa festa.

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